Seleção de Zâmbia
Bom o meu primeiro post será sobre uma das histórias mais dramáticas da história do futebol, um povo sofrido que teve seu sonho frustrado por uma grande tragédia que chocou não só seu povo e sim o mundo todo.Por mais que soe estranho aos brasileiros há muito acostumados a ver Camarões e Nigéria como equipes de ponta na África, nas Eliminatórias para a Copa de 1994 havia fortes indícios de que Zâmbia exerceria esse papel. Aquela geração zambiana realmente estava acima da média do continente mas uma tragédia colocou um fim naquela geração brilhante que até hoje o futebol desse país não se recuperou.
A seleção zambiana começou a encantar o mundo nos jogos olímpicos de 1988 em Seul.
O principal nome daquela seleção era Kalusha Bwalya. Com ele os Chipolopolos ( Balas de Cobre) protagonizaram uma das maiores surpresas envolvendo uma equipe da África sub-saariana (leia-se África negra) contra uma seleção européia de prestígio. Na segunda rodada do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, ele fez três gols – e deu passe para o outro – nos 4 x 0 de Zâmbia sobre a Itália de Tacconi, Carnevale e Baggio. Para os peninsulares, o estrago só não foi maior porque o futebol nas Olimpíadas nunca deu muito ibope. Já os jornais zambianos repercutiram o feliz evento com brincadeiras, insinuando que as vendas de mapas africanos na Itália aumentaram vertiginosamente após a partida. O encanto acabou dias depois, quando a Alemanha Ocidental de Klinsmann derrotou Zâmbia pelo mesmo placar do jogo com os italianos nas quartas-de-final. Mesmo assim, “King Kalu” (apelido de Kalusha Bwalya entre seus compatriotas) foi eleito Jogador do Ano na África em 1988.
Mas a Zambia não parou por ai, nas eliminatórias pra copa do Mundo de 1994, os chipolopolos começaram a encantar os africanos com seu futebol, com uma bela campanha na primeira fase.
A estréia no torneio daquele ano foi em casa diante da Tanzania no dia 11/10/92 venceram por 2x0 e começaram a luta pela vaga inédita na copa do mundo, no dia 25/10/92 foram visitar a Namibia e golearam por 4x0 se firmando como a grande força daquele grupo.Nem a derrota por 2x0 para Madgascar abalou aquele time, no segundo turno vltou a vencer a Tanzania por 3x1 e a namibia pelos mesmo 4x0 do primeiro turno e na útlima rodada da primeira fase venceram Madagascar por 3x1
e se classificaram para a fase final das eliminatórias.
Os chipolopolos cairam no grupo B junto de Marrocos e Senegal. A estréia era diante de Marrocos em casa, os chipolopolos não decepcionaram e venceram por 2x1.
A segunda rodada a Zambia enfrentaria Senegal como visitante que não era nem de longe a equipe que chegou às quartas de final na Copa de 2002, não assustava uma equipe que já ganhava tentáculos em países tradicionais do futebol internacional. Kalusha Bwalya estava no PSV Eindhoven, Charles Musonda, no Brugge, Patrick “Bomber” Banda havia sido sondado pelo Manchester United e David Chabala defendia o gol do Argentinos Juniors. Poucos descartavam Zâmbia de uma relação de países africanos que obteriam a vaga para a Copa dos Estados Unidos.
Foi quando problemas administrativos redundaram em desgraça. Por pura e simples falta de verbaos (motivos reais nunca foram esclarecidos, mas são fáceis de deduzir), a FAZ (federação zambiana) não pôde fretar um avião de linha, tendo de recorrer a um antigo e obsoleto Buffalo B-5. A aeronave, movida a quatro hélices, era usada pela força aérea zambiana e não tinha autonomia de vôo para percorrer os mais de 6 mil km entre a capital Lusaka e Dacar (Senegal). Embora contrariados, 18 dos 20 jogadores convocados para a partida acabaram se resignando. Afinal, estavam na liderança de seu grupo nas Eliminatórias, com ótimas perspectivas de se classificar.
A escala do velho Buffalo para reabastecimento foi feita em Libreville, capital do Gabão (só para ajudar na visualização, na costa atlântica da África, enquanto Zâmbia fica mais ao sul co continente), em 28 de abril de 1993, uma terça-feira (o jogo com os senegaleses seria no dia seguinte). Pouco depois de decolar, por volta da meia-noite local, um dos tanques de combustível da nave explodiu. Ao todo, 30 pessoas morreram (18 jogadores, quatro cartolas da FAZ, três repórteres do jornal Times of Zambia e cinco militares). Foi decretado luto oficial no país por uma semana. Cenas de zambianos chorando em profusão – até mesmo o âncora de um noticiário da TV estatal logo comoveram o mundo. Naquele que foi considerado o maior cortejo fúnebre da história do país, todos os jogadores foram sepultados num pequeno memorial ao lado do Estádio Independence, em Lusaka (foto).
A partida foi suspensa por motivos óbvios, e transferida para 7 de agosto (com empate sem gols). Enquanto isso, os zambianos tentaram remontar sua seleção. Em junho, perderam um amistoso para a Bélgica por 0 x 9, uma das piores goleadas da história dos chipolopolos. Porém, conseguiram se recuperar a tempo de enfrentar Senegal. Os zambianos alinharam – como no restante das Eliminatórias – com uma equipe inexperiente, mas entusiasmada. Liderados por King Kalu, que estava contundido e não jogaria contra Senegal e, por isso, não estava no avião que caiu, os jovens estavam imbuídos da responsabilidade que coubera aos que morreram na costa gabonesa. Foram bem e mantiveram a boa campanha zambiana.
Chegaram à ultima partida precisando apenas de um empate contra Marrocos em Rabat para garantir a classificação. Como se a desgraça já fosse pouca, perderiam o jogo por 0 x 1 com um gol nos minutos finais e veriam a vaga cair nas mãos marroquinas. E Marrocos sequer aproveitou bem o lugar no torneio disputado nos Estados Unidos, perdendo todos os seus jogos (0 x 1 contra a Bélgica, 1 x 2 diante da Arábia Saudita e 0 x 1 para a Holanda). Detalhe: se tivesse vencido o traumático jogo contra Senegal, Zâmbia teria se classificado no saldo de gols.
Em 1994, esse mesmo grupo ainda mantinha a motivação de seguir o legado dos jogadores que estavam naquele Buffalo. Na Copa Africana de Nações, disputada na Tunísia, Zâmbia fez uma excelente campanha. Passou por Costa do Marfim e Serra Leoa na primeira fase, bateu Senegal nas quartas-de-final e superou Mali nas semis. Porém, caiu novamente na decisão. Dessa, vez, para a Nigéria de Amunike, Yekini e Amokachie.
O último suspiro dessa equipe foi em 1996, quando Zâmbia chegou em terceiro lugar na Copa Africana. Desde então, o futebol zambiano nunca mais se recuperou completamente. As gerações seguintes não eram tão talentosas e se afundaram na melancolia que passou a cercar os chipolopolos. Em Mundiais, Zâmbia caiu no grupo de Camarões nas Eliminatórias de 1998 e 2002. Na copa continental, os chipolopolos sempre passavam pelas Eliminatórias, mas caíam na primeira fase. A exceção foi em 2004, quando o time perdeu para o inexpressivo Benin no qualificatório.
Pois parecia que, justamente após bater no fundo, Zâmbia teria conseguido pegar impulso para dar um novo salto. Os chipolopolos fizeram uma bela campanha, acompanhando Senegal e Togo na disputa pela vaga à Copa disponível par ao vencedor do Grupo 1 africano. No entanto, pela penúltima rodada, Zâmbia foi derrotada em casa por Senegal por 0 x 1 e, com a vitória de Togo sobre a Libéria por 3 x 0, ficou sem possibilidades de ir à Alemanha.
Em diversas cidades do país, os torcedores zambianos expressaram sua frustração com quebra-quebras e violência gratuita contra moradores de origem senegalesa. Possivelmente, estavam associando o momento à catástrofe que, doze anos atrás, impediu os chipolopolos de se tornarem uma potência do futebol africano.
Kalusha Bwalya encerrou sua carreira no América mexicano, antes de aceitar o convite para treinar (sem sucesso) a seleção de seu país nas atuais Eliminatórias africanas. Inclusive chegou a atuar em um dos jogos, ano passado, contra a Libéria – entrou no final do jogo e presenteou seus fãs com um belo gol de falta que deu a vitória a seu time.
Eis a relação dos jogadores da seleção de Zâmbia mortos no desastre aéreo no Gabão: David Chabala (goleiro), John Soko (zagueiro), Whiteson Changwe (zagueiro-central), Robert Watiyakeni (zagueiro central), Eston Mulenga (lateral), Derby Makinka (volante), Moses Chikwalakwala (lateral), Wisdom Chansa (meiocampista), Kelvin Mutale (atacante), Timothy Mwitwa (atacante), Numba Mwila (lateral), Richard Mwanza (goleiro), Samuel Chomba (zagueiro), Moses Masuwa (atacante), Kenan Simambe (zagueiro-central), Godfrey Kangwa (volante), Winter Mumba (zagueiro) e Patrick Banda (atacante).
Edmond Mutale, pai do zagueiro Kelvin, morto no acidente, ameaçou processar o governo e as autoridades da FAZ por nunca terem esclarecido os motivos que levaram à tragédia (sequer um inquérito oficial foi levado a cabo). A revolta dele reflete a dos parentes das outras vítimas, também indignados com a omissão do poder público no caso.
O apelido chipolopolo significa “Balas de Cobre”, fazendo referência à cor da camisa da seleção nacional e ao metal cuja extração é vital para a economia do país. Também diz respeito ao jogo veloz e habilidoso dos zambianos que tanto surpreendeu os italianos na Olimpíadas de Seul.
Ae Moikano, roubou minha idéia hein....kkk
ResponderExcluirEsse meu post já estava pronto e iria entrar depois do Mundial Sub-20, mas vou roubar seu post e quando for, colocarei no meu blog.....
Coloca eu ai como referência do seu como fiz lá no meu.
http://row51.blogspot.com
Olá Moikano, futebol não é o forte da nossa família. Mas gostei muito do post, vivi por três anos na Zâmbia e saber um pouco mais sobre aquele país é sempre muito bom. Abraço!
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